"A boca abre e fecha, fala e cala, abre as cortinas, anuncia e encerra. Por ela, sussurramos aquilo que com muita dificuldade não gritamos e urramos aquilo que se espalha pelas veias e cerra os punhos (e os olhos) em lágrimas vermelhas. O mundo que acessamos pela boca, embora muito não tenha gosto, todos sabemos o sabor que tem. Entre o azedo e o doce da saudade, o sal do mar, da pele, das lágrimas, o doce do cafuné, do enjoativo, daquilo que engolimos a contragosto.
Teimosia e memória, é sobre tudo aquilo que degustamos (e desgostamos) em um mar de tons, toques, carícias e carências. Salgar o feijão, entornar o leite e adoçar o café. Os medos e as medidas. Afinal, o homem é o único ser vivo que permanece no sol mesmo quando o couro queima.
Aqui experimentamos o gosto da vida por meio das palavras, como quando sentimos o sabor pelas pontas dos dedos. Daquilo que feito pimenta faz a gente lembrar que o sangue corre (e escorre). É um lembrete de que a vida é movida pelo fogo, não ganha quem apaga, ganha quem se esquenta."
Género: Poesia.
Ano de Publicação: 2021.
Editora: Urutau.
Páginas: 52.
Imagem da minha autoria - Teimosia e Memória de Marina Schneider | Livros |
Opinião:
Marina Schneider é uma poeta da minha geração. E, foi um prazer debruçar-me sobre a sua poesia num final de tarde.
não adianta temer o amor, menina. o ser humano ama por natureza
Teimosia e Memória, é uma coletânea de poemas lindíssimos sobre a degustação e os desgostos que temos na boca e na vida, consecutivamente. Desde o gosto do café, as mentiras que dizemos até às à solidão e à liberdade.
a solidão só existe quando estamos rodeados de pessoas.
É um livro perfeito se procuram ingressar na poesia, se procuram uma leitura leve ou ainda um livro para acompanhar o calhamaço que estão a ler, quase que para ler entre leituras. Mas, saboreiem os versos da Marina que tanto aborda o gato preto em sala cheia como o manaus. Dois dos meus poemas favoritos.
a outra parte abomina poesia sofrida e barata.
A simplicidade das palavras é o que torna o sentimento que nos transfere ainda mais belo de se sentir. Como que sem esforço e, numa conversa intimista conseguisse dizer o gosto do açafrão e do desgosto.
Classificação: 5 ⭐⭐⭐⭐⭐
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