quarta-feira, 19 de abril de 2023

O Ar Que Me Falta: História de uma curta infância e de uma longa depressão de Luís Schwarcz | Livros

Sinopse:


"Luiz Schwarcz é um dos mais influentes editores do Brasil e deu a conhecer algumas das mais relevantes vozes da literatura brasileira e internacional, na Companhia das Letras, por si fundada há mais de trinta anos. Dentro de si, porém, carrega o peso de um passado longínquo, mas doloroso. Esta é a história de uma família que abandonou tudo para fugir ao terror nazi: o pai de Luiz, húngaro, conseguiu escapar de um comboio a caminho do campo de concentração de Bergen-Belsen, deixando para trás o pai, no vagão que acabou por o conduzir à morte; a mãe de Luiz, croata, teve de decorar, aos três anos, um nome falso para embarcar com a família num périplo que os levou ao outro lado do Atlântico. Os destinos dos dois, André e Mirta, cruzaram-se no Brasil, com as lembranças do passado a ensombrarem as promessas de uma nova vida.


Filho único, Luiz, entendeu ser sua a missão de expurgar as culpas que o pai carregava por não ter podido evitar o fim trágico do próprio pai, avô do autor. Como se não fosse peso suficiente para os ombros de um jovem rapaz, Luiz via-se também como responsável por manter o casamento dos pais, união carregada de silêncio e dor. Assumir esse papel acabou por ser a fonte da angústia que o acompanhou ao longo de toda a vida."


Género: Memórias e Testemunhos.


Ano de Publicação: 2021.


Editora: Companhia das Letras.


Páginas: 192.


Avaliação no Goodreads: 3.73. ⭐⭐


O Ar Que Me Falta: História de uma curta infância e de uma longa depressão de Luís Schwarcz | Livros

Opinião:

Não podia ter iniciado o mês de abril de melhor forma. Este livro trouxe toda a bagagem emocional que pelo título supus que iria ter e, ainda foi uma boa surpresa pela escrita simples e sem pretensões nem rodeios de um tema que nos gira os dias e o corpo. 
A sensação de estar próximo ao céu, em espaço tão vasto, torna mais intenso os efeitos da respiração. 

O Ar Que Me Falta, é um livro de testemunhos e memórias do fundador da Companhia das Letras, Luís Schwarcz. Conta episódios soltos que se vai lembrando à medida que se propõe a nos contar a sua história e a presença da depressão crónica ao longo da sua vida.
Hoje a depressão volta sem enredo específico, como uma reação química pura. Na maioria das vezes, inexplicavelmente, a velha senhora chega sorrateira. E tira a minha respiração. 

Luís é filho único e, embora seja brasileiro, os seus antepassados tiveram de fugir da tormenta dos campos de concentração e da prisão que a condição de ser judeu lhes perseguia. A religião em vez de ser um caminho de estabelecer paz no cotidiano, era a pressa no corpo e tentativas de fuga para escapar ao nazismo. 
Assim, vivo há muitos anos num mundo de poucas palavras, com um silêncio de sinais ambíguos.

Essa herança de um passado rebuliço pelas vozes da família, mas particularmente na voz do pai, que sente que abandonou os seus familiares no comboio em direção ao campo de concentração de Bergen-Belsen em ordem da sobrevivência, foi um peso constante na alma que acabou por transferir. 
Meus avós são responsáveis por vários capítulos alegres da minha existência. 

Esse passado duro e a tentativa de apaziguar as zangas dos seus pais para conseguir restaurar o casamento culminam numa infância triste e sozinha. Teve desde cedo que gerir sentimentos que não lhe cabiam no peito a par da mágoa da mãe que por um longo período sofreu vários abortos.
É bem mais fácil superar a tristeza quando a vemos correr em nossa face, apertar a nossa garganta, impedir a nossa respiração. 

A História de uma curta infância e de uma longa depressão é uma história sobre o seu crescimento até ao momento em que se desafiou a escrever este livro acompanhada do monstro crónico da depressão que lhe fulminava os dias e os momentos sossegados. 

Ela enxergava muito mal e não atinava com o que ouvia, assim aquelas canções que ninguém entendia eram a única forma de comunicação com o mundo, e consigo própria.
Partilha também o gosto pelas artes, desde a literatura até à música que sempre lhe foi um escape e uma presença diária. Incentivada pela mãe e pelos avós que reconheciam a cultura como um passatempo rico.  
Este livro foi construído sobre uma longa história de silêncios.
É um livro que nos coloca de perto com as consequências do nazismo e em confronte com o lado emocional que é facilmente sobrecarregado e dificilmente resolvido.

Classificação:⭐⭐⭐⭐⭐

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