"«O avô, resumido nos sentimentos, sem talento nas aflições, mais maniento e cheio de medo, só dizia: sossega, menina, sossega. Mesmo velhinhos, ele tratava-a como da primeira vez. Era uma menina.»
Um conto delicado sobre a fragilidade dos avós vista pelos olhos atentos do neto.
Na sensibilidade que só as palavras de Valter Hugo Mãe conseguem atingir, acompanhamos a força do amor dos avós um pelo outro e dos dois pelo neto. O poder dos laços da família e do afeto."
Género: Contos.
Data de Publicação: 2020.
Editora: Porto Editora.
Páginas: 52.
Avaliação no Goodreads: 4.34 ⭐⭐⭐⭐
Crédito - Serei Sempre o teu Abrigo de Valter Hugo Mãe | Livros |
Opinião:
Em 2021, debrucei-me sobre "A Desumanização" de Valter Hugo Mãe e, apesar de ter sido uma leitura difícil e de talvez, não ter sido o livro mais indicado para conhecer a sua escrita, a verdade é que me marcou.
Quando a avó trocou o coração por um eletrodoméstico, continuou amando.
Passei um bom tempo sem pegar em mais nada do autor português e eis que "Serei Sempre o teu Abrigo" me despertou a curiosidade de lhe regressar. Neste conto, apercebemo-nos de uma espécie de dedicatória de amor aos seus avós e de certa forma, do amor vivido entre eles.
Tanta coisa era mágica na sua vida. Até a tristeza.
A avó precisa de um aparelho para que o seu coração continue com os seus batimentos a abrigar amor. Essa necessidade assusta toda a família, principalmente o avô que, não sendo de muita demonstração afetiva, sente grande amor por ela.
As pessoas abrigam-se umas nas outras. Mesmo ausentes, nossos abrigos existem. Estamos debaixo da memória.
Esta premissa parte para a dimensão de amarmos. Para as pessoas que abrigamos no nosso peito e o que significa amar. As que menos demostram, não são as que menos sentem. Da mesma forma, as que mais demonstram, não são as que mais sentem. Mas, existe abrigo e existe saber no amor.
Um dia, entendi que os velhos são heróis. Passaram por muito, ganharam e perderam tanta coisa. Perderam pessoas. Persistem sobretudo para cuidar de nós, os mais novos, e nos assistirem. Observam-nos.
Conhecemos um bocadinho mais dos seus avós. Do carinho que lhes guarda e do apreço que sente. Descobrimos as várias formas de ser e de demonstrar a ternura. Bem como da poesia que habita dentro de nós quando amamos.
Lugares onde protegemos com garra e ternura uma parte da vida, garantias ou provas de amor, tudo quanto nos mantém ou pode reerguer.
Este livro foi sem dúvida tudo o que outro não foi. Leve, delicado e o início certo para (re)descobrir um dos autores portugueses mais prezados.
Classificação: 5 ⭐⭐⭐⭐⭐
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